O CPCB – Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, entidade coordenada por Carlos e Myrna Brandão e responsável pela restauração de tesouros da cinematografia nacional apresenta no FAM 2008 a cópia turbinada de O Homem que Virou Suco (1981), de João Batista de Andrade. Enquanto não chega o momento de (re)ver a emocionante saga do nordestino Deraldo pela metrópole paulista vale a pena conhecer um pouco mais sobre outras preciosidades da cultura brasileira que ganharam vida nova em restaurações guiadas pelo CPCB.
Duas obras do ciclo das chanchadas foram alvos das primeiras restaurações: Aviso aos Navegantes (chanchada clássica de 1950 com Oscarito e Grande Otelo) e O Carnaval no Fogo (1949), ambas dirigidas por Watson Macedo. Essas obras são as mais legítimas representantes desse estilo musical e carnavalesco, de humor ingênuo e burlesco, que se tornou um gênero notadamente brasileiro. Ambas revelam de maneira exemplar a gramática característica dessa estética.
Oscarito e Eliana filosofam sobre o amor em Aviso aos Navegantes (1950) e, logo abaixo, o mitológico duelo cômico em que Oscarito e Grande Otelo interpretam Romeu e Julieta em O Carnaval no Fogo (1949)
Depois veio a restauração de Tudo Azul, filme de Moacyr Fenelon de 1952 que experimenta uma estética desenvolvida a partir da chanchada, mas relida no que se poderia chamar musical dramático, novidade na cinematografia brasileira da época. A importância histórica vai além da linguagem: o roteiro retrata o ciclo da cana-de-açúcar, o fim dos engenhos com a chegada das usinas e o drama da escravidão tardia nesse contexto.
Outro título restaurado de imensa importância histórica é O País de São Saruê, documentário de 1971 dirigido por Vladimir Carvalho na região do Polígono da Seca (entre a Paraíba, Pernambuco e Ceará). Trata-se de um filme denso e realista que aprofunda a relação entre o homem e a terra e evidencia o sofrimento do sertanejo na luta pela sobrevivência num Brasil árido e violento, até então pouco documentado. O filme de Carvalho só foi liberado pela Censura oito anos após sua finalização, em 1979.
O Brasil árido retratado em O País de São Saruê (1971)
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